domingo, 6 de outubro de 2013

Extrato de Canela e o Mal de Alzheimer



Sábado, dia 30 de julho, estava lendo um post do blog Psicologia para Refletir da Jéssica Calderon, por indicação de um contato do Facebook. Como achei interessante o primeiro post que li, resolvi dar uma olhada nos demais posts do blog. O último post realizado no blog da Jéssica, datado do dia 30 de junho de 2011, falava sobre uma reportagem publicada no Jornal O Globo em 22 de junho, que divulgava um estudo realizado em Israel sobre o potencial da canela para combater o Mal de Alzheimer.
O Mal de Alzheimer, ou demência senil do tipo Alzheimer, é a forma mais comum de demência. É incurável, degenerativa e terminal, e foi descrita inicialmente por Alois Alzheimer em 1906, recebendo seu nome. É um mal geralmente diagnosticado em pessoas com mais de 65 anos de idade, embora estudos atuais indiquem que seu início se dá muito mais cedo. Em 2006, a estimativa era de que mais de 26 milhões de pessoas no mundo inteiro sofriam da doença. Com o aumento da expectativa de vida, especialmente nos países industrializados, o Mal de Alzheimer deve tornar-se cada vez mais comum.
Comparison of a normal aged brain (left) and an Alzheimer's patient's brain (right). Differential characteristics are pointed out.Há algum tempo eu vinha lendo tudo o que podia encontrar sobre a Doença de Alzheimer, recorrendo aos livros, publicações científicas e web-sites como o Portal da Saúde, NIA, MayoClinic, WebMD, Wikipedia, MedlinePlus, Alzheimer's Association, etc. Resumindo tudo o que havia lido até então, além das medicações Donepezil, Galantamina e Rivastigmina e de algumas drogas que ainda estão longe de chegar ao mercado, havia apenas os efeitos potencialmente benéficos do THC sobre o curso da doença. O problema é que, até onde sei, é virtualmente impossível obter legalmente doses terapêuticas de THC no Brasil, e o composto alternativo, derivado do açafrão (cúrcuma), não é facilmente metabolizado para essa finalidade.
tetrahydrocurcumin
De qualquer jeito, todos os métodos alternativos ou complementares de tratamento para a doença de Alzheimer sobre os quais eu havia lido, incluindo o THC e as terapias de reabilitação, traziam apenas benefícios moderados, se muito. A melhor forma de abordar e enfrentar a doença continua sendo uma combinação de acompanhamento médico adequado, farmacoterapia, cuidados redobrados com a saúde geral, alimentação saudável rica em antioxidantes, exercícios físicos e atividade mental, tudo com um bom suporte psicossocial/familiar. Evidentemente que não são mudanças facilmente realizáveis na rotina de um núcleo familiar, embora sejam necessárias.
Mas então tive contato com o post no blog da Jéssica e resolvi me informar. Em
2008, Cao, Qin e colaboradores do Beltsville Human Nutrition Research Center (BHNRC) falavam dos efeitos antioxidantes, antiinflamatórios e neuroprotetivos promovidos no organismo pelo consumo de chá verde e de extrato de canela. Em 2009, Peterson, George e colaboradores, da Universidade da Califórnia e do BHNRC, publicaram no Journal of Alzheimer's Disease os resultados do uso do extrato aquoso de canela (Cinnamomum verum) para inibir agregação patológica da proteína tau in vitro.

Dois tipos de canela.Em 2009 já havia sido feito um pedido de patente visando o uso do extrato de canela para o tratamento de doenças associadas aos amiloides (fibras proteicas). O pedido teve origem na Universidade de Tel Aviv. O que diz o pedido de patente: "1. O uso do extrato da casca de canela para o preparo de composto farmacêutico para o tratamento ou prevenção de doenças associadas a um amiloide, tal extrato tendo ou um mais dos seguintes: a) uma absorção de 280nm de 10-20 O.D./mg. cm., b) um peso molecular maior que ou igual a 1OkDa, e c) obtido da extração por processo livre de solventes orgânicos, que compreende a exposição da casca de canela moída à água ou solução aquosa, com o fim de obter tal extrato. [...]" Resumindo em bom português: chá de canela.
Por fim, em 2011, Frydman-Marom, Levin e colaboradores, da Universidade de Tel Aviv, publicaram o seguinte artigo na revista PLoSOne: Extrato de Canela Administrado por Via Oral Reduz a Oligomerização de β-Amiloides e Corrige o Comprometimento Cognitivo em Modelos Animais da Doença de Alzheimer. Artigo que deu origem à notícia no jornal O Globo e no blog da Jéssica.
O que temos é que o extrato de canela já se mostrou útil in vitro e no modelo animal, sendo que o próximo passo são trials com seres humanos para originar algum tipo de fármaco para o tratamento de doenças como o Alzheimer. Esse tipo de estudo geralmente leva anos, consome muito dinheiro e resulta em medicamentos caros. Uma substância que pode ilustrar esse processo é o
azul de metileno, um dos corantes mais ordinários, mas que quando é transformado em Cymbalta (Duloxetina), Reductil (Sibutramina), Efexor (Venlafaxina), Anafranil (Clomipramina) ou Tofranil (Imipramina) se torna um rentável produto para as farmacêuticas.
Até lá, quando lançarem alguma boleta com nome estranho e cheia de efeitos colaterais a base de extrato de canela, pode ser uma boa ideia um chazinho de canela para aquecer o peito antes do dormir; sem descuidar, evidentemente, das recomendações médicas.

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