terça-feira, 16 de junho de 2020

Mas digamos que a jabuticaba tem mesmo vocação frente ao acúmulo de gordura — em todos os aspectos. Uma notícia que ganha relevância com o avanço da obesidade. Estima-se que 54% dos brasileiros já estejam com uns quilos a mais. E vai longe o tempo em que a barriga de chope era vista como inofensiva. Conforme a cintura fica larga, aumenta a propensão à chamada síndrome metabólica, uma coleção de perigos como pressão alta e diabetes. Isso porque a gordura estocada no abdômen se comporta como um tecido bem vivo, produzindo substâncias inflamatórias que colocam o coração e outros cantos sob ameaça. E quem diria que uma frutinha tão pequena se revelaria um gigante contra isso aí… Nesse sentido, vale conferir alguns dos achados vindos da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo (USP). Lá, o químico Márcio Hércules Moura avalia o potencial da jabuticaba justamente na prevenção da obesidade. O pesquisador anda estudando compostos abundantes na espécie. Moura conta que animais que consumiram diariamente uma dieta cheia de gordura e açúcar, mas receberam juntamente um extrato da fruta, ganharam menos peso e gordura do que o grupo que ingeriu a mesma ração e água. O trabalho foi destaque no Prêmio SAÚDE de Nutrição de 2017. “Além das antocianinas da casca, destacamos as proantocianidinas e os elagitaninos da polpa e das sementes”, descreve o cientista, que reforça a sugestão de degustar a fruta de forma integral. “Geralmente, as pessoas desprezam determinadas partes”, lamenta. RELACIONADASMAIS LIDAS Bem-Estar Jabuticaba: nossa pequena é notável Bem-Estar Lichia e jabuticaba Nutritiva da semente até a casca No Sítio do Picapau Amarelo, quem costumava se dar melhor, sem saber, era o Rabicó. Isso porque o leitão devorava as sobras cuspidas por Narizinho do alto da jabuticabeira. Dessa maneira, o personagem garantia grande parte das vantagens para si. Embora a polpa ganhe em doçura, ela perde para o restante da fruta. As sementes oferecem substâncias bacanas, mas a estrela da maioria das pesquisas é mesmo a capa preta. O invólucro foi parar na bancada do farmacêutico Matheus Lavorenti Rocha, no Laboratório de Farmacologia Cardiovascular da Universidade Federal de Goiás (UFG). “Verificamos que compostos encontrados na casca provocam um considerável relaxamento das artérias”, revela o estudioso. Esse efeito contribui para baixar a pressão. Rocha conta que a ação se deu tanto em animais saudáveis quanto em hipertensos. “A jabuticaba foi capaz de aumentar a produção de óxido nítrico, a principal substância vasodilatadora produzida pelo organismo”, explica. Mais uma vez, o ácido elágico e as antocianinas aparecem como os grandes promotores do benefício. Outro grupo que tem deparado com excelentes resultados é o do engenheiro de alimentos Mário Maróstica, da Universidade Estadual de Campinas, a Unicamp, no interior de São Paulo. Por meio de experiências com roedores, ficou comprovado, por exemplo, que os compostos da jabuticaba têm atributos anti-inflamatórios. “As substâncias interferem na cascata de inflamações que é marcante na obesidade”, conta Maróstica. CONTINUA APÓS A PUBLICIDADE Esse mecanismo protege estruturas do cérebro, caso do hipocampo, que está ligado à regulação e à preservação da memória. Assim, o Alzheimer engrossa a lista de males potencialmente combatidos pelo frutinho. E tem mais, viu? Afinal, lá se vai mais de uma década que os especialistas da Unicamp se debruçam sobre os poderes do alimento. “Pesquisa realizada com dez adultos saudáveis mostrou que a jabuticaba auxilia na redução das taxas de glicose”, ressalta o professor. Segundo Maróstica, os voluntários consumiram um preparado feito exclusivamente com cascas e, por meio de exames, foi possível mensurar a queda do açúcar circulando pelo sangue. O mesmo estudo ainda apontou um aumento de 10% nos níveis de antioxidantes em circulação. Portanto, uma prova de que as substâncias da fruta de fato passam para o organismo, favorecendo a defesa contra os radicais livres. Já na Região Sul do Brasil, os poderes da casca da jabuticaba têm encantado a farmacêutica Andréia Quatrin, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), no Rio Grande do Sul. Além de constatar bons efeitos na glicemia e no colesterol, houve impacto positivo no fígado de animais estudados. “Observamos um aumento na produção de glutationa, substância produzida no fígado e que auxilia na proteção antioxidante”, descreve Andréia. De novo, as benditas antocianinas e também os taninos estão metidos na história. Aqui, entretanto, mais um personagem chega para incrementar o enredo em prol do corpo. “A casca da jabuticaba é rica em fibras alimentares, tanto as solúveis quanto as insolúveis”, assinala a pesquisadora da UFSM. E, entre os papéis desempenhados pelas substâncias, um dos mais importantes é limitar a absorção de gordura, o que contribui para o equilíbrio das taxas de colesterol. Elas colaboram ainda para uma resposta glicêmica gradual, fazendo com que as taxas de açúcar no sangue fiquem balanceadas. Para completar, estendem a sensação de saciedade. Mas aqui também mora uma controvérsia. Certamente alguma tia já sinalizou que a jabuticaba “tranca” o intestino. Chamamos outra fã da espécie para elucidar a sabedoria popular. “Quem não tem problemas intestinais e saboreia sem exageros dificilmente vai passar por algum aperto”, garante a nutricionista Andréa Esquivel, do Cedig — Centro de Medicina Avançada, na capital paulista. Para algumas pessoas, porém, é difícil se controlar diante da frutinha. “Quem sobe no pé come o tanto que couber na barriga. Ninguém consegue se contentar com pouco”, diverte-se Andréa. “E o resultado pode vir em forma de desconfortos, cólicas ou desarranjos”, avisa a nutricionista. Daí a associação com perrengues intestinais. CONTINUA APÓS A PUBLICIDADE Na dúvida, aprecie com bom senso. A sugestão da nutricionista Renata Guirau, do Oba Hortifruti, é de até uma xícara de chá da fruta inteira, o equivalente a uma porção. Os nutrientes de cada parte da jabuticaba Casca: Ela pode ser dura de mastigar. Mas compensa: tem fibras a valer. Além disso, a estrutura lustrosa e adstringente esbanja antocianinas, grupo de pigmentos badalado por sua ação antioxidante. Polpa: O caldo interno é uma sopa de vitaminas — reúne as do complexo B e a C. Também ostenta minerais como potássio e pitadas de fósforo e ferro. Sem contar a concentração de carboidrato, que deixa tudo doce, doce. Semente: Até mesmo ela, tão desperdiçada por aí, guarda preciosidades, caso dos taninos, substâncias protetoras das células. Há ainda fibras e algumas gorduras do bem


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