A fruta brasileiríssima
Apreciada por todos, repleta de boas qualidades, a jabuticaba é uma delícia para todas as idades
Todo mundo conhece alguém que acha uma delícia chupar jabuticaba no pé. Pode fazer o teste. Seja avô, avó, tio, tia, irmãos ou primos mais velhos. Alguém sempre vai ter uma lembrança gostosa de quando ficava embaixo de uma jabuticabeira.
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Típica da Mata Atlântica, a jabuticabeira (Myrciaria cauliflora) ocorre, naturalmente, de forma mais concentrada, na região Sudeste. Nos estados desta região, a mais doce fruta da família Myrtaceae faz história antes da chegada dos europeus no Brasil.
Dos indígenas do tronco tupi-guarani vêm o nome, conforme explica Silveira Bueno, em seu vocabulário Tupi-Guarani/Português. Ele escreve jaboticaba com a vogal “o” e a define como “a fruta em forma de botão de flor”. Esclarece também que não há qualquer relação com o jaboti, um réptil muito comum da nossa fauna. O atual jeito popular de escrever, jabuticaba, veio com o tempo.
Além de podermos chupar a fruta no pé, ou comprá-la em feiras, quitandas e mercados, é possível também fazer com esta fruta, o doce de geléia, o licor, a cachaça e o vinho.
Além de servirem para o nosso consumo, os frutos também são alimentos que entram no cardápio de aves, capivaras, porcos-do-mato, cutias, macacos, micos e quatis.
As jabuticabeiras começam a ser procuradas, primeiro pelos insetos, quando começam a dar flor, de julho a agosto, ou dependendo da região, de novembro a dezembro. As centenas de flores são brancas e nascem diretamente no caule, característica conhecida como caulifloria. As flores são um banquete para insetos dos mais variados tamanhos e enche os olhos pela beleza que formam nos pomares.
Os frutos verdes, aos poucos, se tornam roxos e, depois, escurecem até o negro-brilhante. A polpa, suculenta, mole e esbranquiçada, pode ter até 4 sementes. Normalmente, os meses mais produtivos são setembro e outubro, mas há variações conforme a região, o clima e a variedade da jabuticaba. Em média, a jabuticabeira começa a produzir frutos aos 8 ou 12 anos de idade.
Depois da primeira safra, a produção se repete por anos e anos. Já se tem notícia de pés de jabuticabas que frutificaram por mais de 50 anos! O seu desenvolvimento depende da variedade, sendo que as maiores chegam a 15 metros. A madeira é flexível e resistente usada em pequenas construções e na produção de móveis.
Pesquisas mostram que produtos feitos com a jaboticaba possuem benefícios antioxidantes, contendo até 3 vezes mais polifenois. Os polifenois podem significar melhora da qualidade de vida para pacientes diabéticos e portadores de doenças como o mal de Alzheimer. Quem consome jabuticaba estimula também o apetite. A fruta é “reanimadora”: contém compostos de vitamina C, B2 e B5, e é fonte de minerais como cálcio, ferro e fósforo.
Desses polifenois, os mais importantes são a quercetina e a rutina que possuem propriedades antitumorais e antiglicêmicas, ajudando a combater o colesterol ruim (LDL) e aumentando o colesterol bom (HDL), além de servir para o sistema nervoso.
Na medicina popular, o chá das cascas de jaboticabas é empregado no tratamento de angina, disenteria e erisipela. Ainda na forma de chá, a entrecasca é usada contra asma.
A casca das jabuticabas contém pigmentos naturais, presentes em flores e frutas, cujas cores puxam para o roxo ou o vermelho, por isso existem estudos para seu uso em substituição a corantes artificiais para alimentos.
Não faltam qualidades e benefícios às jabuticabas. É mais do que justificado, portanto, o carinho histórico e cultural dos brasileiros para com a fruta.
Esse carinho atravessa gerações e está registrada em cartas, livros, músicas e poesias como a de Carlos Drummond de Andrade em trecho de Menino Antigo que nos adoça os sentidos com uma travessura de infância: “Atrás do grupo escolar, ficam as jabuticabeiras / Estudar a gente estuda / Mas depois, / ei pessoal; / (...) / Jabuticaba chupa-se no pé.”
Assim, se um vendedor de rua acaso passar com a carriola vendendo jabuticaba por litro, compre. Se ela estiver disponível no mercado, aproveite. Mas, se puder seguir o conselho do poeta mineiro, arrume um tempinho, um vizinho ou amigo que tenha num canto do quintal uma jabuticabeira e uma vez ao menos, chupe a fruta no pé. Tenha você também esta deliciosa lembrança para contar a alguém.
SAIBA +
A reportagem completa que deu origem a esta matéria foi publicada em setembro 2006, na Revista Terra da Gente, Ano 3, número 29.
Típica da Mata Atlântica, a jabuticabeira (Myrciaria cauliflora) ocorre, naturalmente, de forma mais concentrada, na região Sudeste. Nos estados desta região, a mais doce fruta da família Myrtaceae faz história antes da chegada dos europeus no Brasil.
Dos indígenas do tronco tupi-guarani vêm o nome, conforme explica Silveira Bueno, em seu vocabulário Tupi-Guarani/Português. Ele escreve jaboticaba com a vogal “o” e a define como “a fruta em forma de botão de flor”. Esclarece também que não há qualquer relação com o jaboti, um réptil muito comum da nossa fauna. O atual jeito popular de escrever, jabuticaba, veio com o tempo.
Além de podermos chupar a fruta no pé, ou comprá-la em feiras, quitandas e mercados, é possível também fazer com esta fruta, o doce de geléia, o licor, a cachaça e o vinho.
Além de servirem para o nosso consumo, os frutos também são alimentos que entram no cardápio de aves, capivaras, porcos-do-mato, cutias, macacos, micos e quatis.
As jabuticabeiras começam a ser procuradas, primeiro pelos insetos, quando começam a dar flor, de julho a agosto, ou dependendo da região, de novembro a dezembro. As centenas de flores são brancas e nascem diretamente no caule, característica conhecida como caulifloria. As flores são um banquete para insetos dos mais variados tamanhos e enche os olhos pela beleza que formam nos pomares.
Os frutos verdes, aos poucos, se tornam roxos e, depois, escurecem até o negro-brilhante. A polpa, suculenta, mole e esbranquiçada, pode ter até 4 sementes. Normalmente, os meses mais produtivos são setembro e outubro, mas há variações conforme a região, o clima e a variedade da jabuticaba. Em média, a jabuticabeira começa a produzir frutos aos 8 ou 12 anos de idade.
Depois da primeira safra, a produção se repete por anos e anos. Já se tem notícia de pés de jabuticabas que frutificaram por mais de 50 anos! O seu desenvolvimento depende da variedade, sendo que as maiores chegam a 15 metros. A madeira é flexível e resistente usada em pequenas construções e na produção de móveis.
Pesquisas mostram que produtos feitos com a jaboticaba possuem benefícios antioxidantes, contendo até 3 vezes mais polifenois. Os polifenois podem significar melhora da qualidade de vida para pacientes diabéticos e portadores de doenças como o mal de Alzheimer. Quem consome jabuticaba estimula também o apetite. A fruta é “reanimadora”: contém compostos de vitamina C, B2 e B5, e é fonte de minerais como cálcio, ferro e fósforo.
Desses polifenois, os mais importantes são a quercetina e a rutina que possuem propriedades antitumorais e antiglicêmicas, ajudando a combater o colesterol ruim (LDL) e aumentando o colesterol bom (HDL), além de servir para o sistema nervoso.
Na medicina popular, o chá das cascas de jaboticabas é empregado no tratamento de angina, disenteria e erisipela. Ainda na forma de chá, a entrecasca é usada contra asma.
A casca das jabuticabas contém pigmentos naturais, presentes em flores e frutas, cujas cores puxam para o roxo ou o vermelho, por isso existem estudos para seu uso em substituição a corantes artificiais para alimentos.
Não faltam qualidades e benefícios às jabuticabas. É mais do que justificado, portanto, o carinho histórico e cultural dos brasileiros para com a fruta.
Esse carinho atravessa gerações e está registrada em cartas, livros, músicas e poesias como a de Carlos Drummond de Andrade em trecho de Menino Antigo que nos adoça os sentidos com uma travessura de infância: “Atrás do grupo escolar, ficam as jabuticabeiras / Estudar a gente estuda / Mas depois, / ei pessoal; / (...) / Jabuticaba chupa-se no pé.”
Assim, se um vendedor de rua acaso passar com a carriola vendendo jabuticaba por litro, compre. Se ela estiver disponível no mercado, aproveite. Mas, se puder seguir o conselho do poeta mineiro, arrume um tempinho, um vizinho ou amigo que tenha num canto do quintal uma jabuticabeira e uma vez ao menos, chupe a fruta no pé. Tenha você também esta deliciosa lembrança para contar a alguém.
SAIBA +
A reportagem completa que deu origem a esta matéria foi publicada em setembro 2006, na Revista Terra da Gente, Ano 3, número 29.
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